Sotaque lusitano navega a gastronomia paulistana
É inevitável: quando um brasileiro pensa em comida portuguesa, a primeira coisa que vem à mente é bacalhau. Não raro, em forma de aloirados e cremosos bolinhos. Caldo verde, arroz de pato e pastel de nata vêm na sequência. No entanto, verdade seja dita, os últimos anos vêm mudando (ou no mínimo, ampliando) esse panorama. Pelo menos em São Paulo.
Alguns culpados nesse processo têm nome e sobrenome, caso de Vítor Sobral. No comando do grupo Esquina, hoje com quatro casas em Lisboa e outras três na capital paulista, o chef trouxe uma cozinha de autor com base nos produtos e no patrimônio culinário de seu país natal. Ao mesmo tempo, mostrou que essa mesma cozinha criativa era permeável e também recebia influências dos lugares por onde passava.
Vai daí o polvo grelhado que, no lugar das sagradas batatas, recebe cubos de mandioquinha, o tubérculo tão brasileirinho. Ou então, a moqueca de bacalhau, uma irresistível provocação. O hambúrguer de alheira com queijo da Serra da Estrela é tão irreprimível quanto, assim como o caril (detalhe: muito brasileiro nem sabia que curry tinha nome em português) de camarão.
Já a B.LEM Portuguese Bakery, com dez lojas, provou que é complicado resistir a uma boa bola de berlim, ainda mais quando recheada com ovos moles ou com doce de leite. A Manteigaria Lisboa, por sua vez, primeiro comprovou que todo dia é dia de pastel de nata. Então, lançou pastéis originais e . .. salgados !! O de galinhada portuguesa virou um case entre os clientes das nove unidades da marca.
Assim, sem alardes, mas com muita deliciosidade, São Paulo vai sendo preenchida por portuguesices. Um caminho sem volta, que pode – e deve – ganhar novos e saborosos atalhos.